sábado, 29 de outubro de 2011

em solo brasileiro

SEGURANÇA NACIONAL

Ação "made in Brazil" frustrante


  O cinema brasileiro evoluiu visilmente nos ultimos quinze anos e uma grande variedade de títulos tomou conta das telas do cinema e posteriormente dos formatos digitais. Provavelmente muitos fãs do cinemão de Hollywood já se perguntaram quando o Brasil faria um filme de ação e como isso se daria. A resposta veio por meio de uma película pouco diferente das produções norte-americanas. Segurança Nacional, dirigido por Roberto Carminati  e roteirizado pelo mesmo em parceria com Bruno Fantini e Daniel Ortiz é o tal filme de ação brasileiro - a terrível resposta para a interessante pergunta sobre o gênero em questão ser produzido no Brasil.

Roberto Carminati
  Segurança Nacional foi filmado em 2006 e misteriosamente só foi lançado nos cinemas em 2010. Ou seja, bem depois de Tropa de Elite 1 e 2, que são os autênticos filmes de ação brasileiros em todos os sentidos. O filme de Carminati até consegue trazer elementos interessantes para compor um filme de ação no Brasil, tais como o exército brasileiro, a força aérea e até mesmo a ABIN (Agencia Brasileira de Inteligencia), que é uma especia de "CIA brasileira". Os grandes problemas são o herói Marcos Rocha (Tiago Lacerda), um agente secreto que mais parece um Jack Bauer (24 Horas) ou Ethan Hunt (Missão Impossível) brasileiro e o roteiro repleto de situações inverossímeis que em quase nada remetem à realidade de nosso país - ao contrário assemelham-se a roteiros ruins de certos filmes duvidosos de Hollywood.
 

  A idéia de um presidente negro para o Brasil é interessante e bem representada por Milton Gonçalves e embora possa remeter à eleição do presidente Obama, o filme foi feito bem antes das eleições presidenciais norte-americanas. Porém é muito difícil engolir a idéia de que um governante brasileiro visite escolas públicas para fazer palestras para crianças sobre combate às drogas!!!! Bem como a idéia de que ele possa se abrigar num bunker (abrigo anti-aéreo) em situação de ameaça de ataque nuclear, embora não se saiba de tal informação.
  
O Traficante colombiano
Explosão atômica na Amazônia
 










  O vilão, um poderoso traficante colombiano até bem interpretado pelo ator mexicano Joaqin Cosio tem a "interessante" (???) idéia de explodir uma bomba atômica em plena Amazônia a fim de destruir o SIVAM (Sistema de Vigilancia da Amazonia) para poder literalmente expandir o caminho de sua rota de tráfico de drogas. Só não dá pra aceitar que o presidente diria em rede nacional para toda a população que o SIVAM seria desativado a pedido do traficante devido à ameaça de uma nova explosão. Certamente os roteiristas não pensaram que tal notícia espalharia o panico entre a população e caso o presidente resolvesse passar um mensagem a respeito da segurança do país, poderia fazê-lo por meio do ministro da defesa. Enfim , tropeços narrativos à parte passemos ao próximo parágrafo.
  Técnicamente bem realizado, o filme conta com uma boa edição de som e uma ótima fotografia, retratando boa parte da extensão da Amazonia bem como as locações da sede da ABIN e o Palácio do Planalto em Brasília. Os caças da força aérea e a coreografia encenada por soldados do exército são muito bem vindas para representar o poderio bélico / militar do Brasil que por sinal é bem estruturado.

    
  Enfim, é muito difícil acreditar num filme de ação que não retrate quase nada da situação de nosso país, exceto os já citados Tropa de Elite 1 e 2. Em Segurança Nacional, um político corrupto foi ótima sacada e resultou num personagem bem representado por Gracindo Junior, pena que não seja argumento forte o suficiente para sustentar o filme, que vai se afundando cada vez mais até culminar no desfecho hollywoodiano simplório em que o herói nada convicente vivido por Tiago Lacerda enfrenta o vilão no braço, salva a mocinha indefesa (a bonitinha Viviane Vitoretti) que por sinal é sua namorada, e ainda salva o país de um desastre maior que o roteiro do filme.

Trailer



Título original: (Segurança Nacional)

Lançamento: 2010 (Brasil)

Direção: Roberto Carminati

Atores: Thiago Lacerda, Milton Goncalves, Ângela Vieira, Gracindo Jr..

Duração: 97 min
Gênero: Aventura




  
 

sábado, 15 de outubro de 2011

retratos da Lei

Detetive Eldon Perry
&
Capitão Nascimento

Duas faces da Lei








 O cinema norte americano por inúmeras vezes surpreendeu o público mundial com filmes de temática profunda, levando o espectador à reflexão a respeito do que viu nas telas ou do que vive socialmente. E neste aspecto, o gênero policial cumpriu e ainda cumpre seu papel, brindando o público e crítica com obras cinematográficas que estão muito além da ação espetacular que domina as salas de projeção ou mesmo a tela da TV.  

Ron Shelton

  E é com muita surpresa que nos Estados Unidos, no ano de 2002 fora produzido um filme policial que certamente ja é um dos melhores da história recente do cinema, ainda que tenha sido produzido de forma independente. A Face Oculta da Lei (Dark Blue, 2002), traz uma história ambientada no inicio da década de noventa, mais precisamente em 1991, ano em que Rodney King - cidadão negro de Los Angeles foi detido e espancado por quatro policiais brancos sob a acusação de dirigir em alta velocidade, um caso que abalou opinião pública e que é apenas citado no filme para ambientar o interessante roteiro escrito e dirigido por Ron Shelton.

  Tal caso desencadeou uma onda de protestos e violência que durou os três primeiros dias do mês de março, pois o caso de Rodney King foi registrado em vídeo por uma testemunha e a gravação percorreu o mundo e grande parte da cidade de Los Angeles se viu mergulhada num caos. Em meio a esse inferno esta o detetive Eldon Perry (Kurt Russel), lutando ferozmente junto à polícia para tentar conter a onda de violência que avança cada vez mais pela "cidade dos anjos". 
José Padilha

  Cinco anos mais tarde, ano de 2007, o cinema brasileiro lançou uma produção policial autêntica que tornou-se um grande sucesso na história do nosso cinema, Tropa de Elite, dirigido por José Padilha e roteirizado por Rodrigo Pimentel, Braulio Mantovani e o próprio Padilha - o filme causou uma grande repercussão tanto pela pirataria precoce que sofreu antes de estrear nos cinemas e também pelo tema polêmico ao retratar a ação um tanto inescrupulosa do BOPE no combate ao tráfico de drogas nos morros e favelas do Rio de Janeiro.
  Capitão Nascimento e seus soldados de elite utilizam meios pouco ortodoxos de investigação tais como torturas e varias intimidações brutais, além de demonstrarem eficiencia matando vários criminosos ligados diretamente ao tráfico. Nesse ponto, Tropa de Elite difere de A Face Oculta da Lei, já que os  colegas de Eldon Perry e ele próprio perseguem supostos criminosos e os matam, isso após armarem inúmeros pretextos, tais como falsicar evidências entre outras coisas colocando em primeiro lugar na lista de procurados, criminosos de menor periculosidade, muitos dos quais nem estão diretamente envolvidos na onda de crimes, muito menos nos assassinatos brutais que "estampam" os noticiários de Los Angeles.

  O sucesso estrondoso de Tropa de Elite obviamente gerou uma sequencia, produzida no ano de 2009 e totalmente superior à primeira ja que esta produção contou com muito mais recursos e até a presença de um técnico de Hollywood para conferir mais estética às cenas físicas de Tropa 2.



  Em Tropa 2, o então Coronel Nascimento é nomeado Secretario de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o que o fará conhecer de perto a grande máquina pública e assim descobrir que "o inimigo é outro" conforme anunciado no subtítulo do filme. Ao ingressar em um cargo público na esperança de fazer algo a mais para tentar mudar a dura realidade que ele enfrentara enquanto policial, Nascimento descobre que lutar por meios administrativos é tão dificil quanto fazê-lo vestindo uma farda, pois a ascenção do crime organizado esta diretamente ligada à corrupção que impregna os cargos públicos do país. Um grande momento do cinema brasileiro representando na ótima interpretação de Wagner Moura, não menos brilhante que a atuação de Kurt Russel.
  Nascimento finalmente atinge o que pode ser chamado de heroismo ao deflagrar o que ocorre à sua volta enquanto ocupa o cargo de secretário, e nos momentos finais ele aponta publicamente em uma bancada diante da imprensa, os corruptos com quem ele então trabalhava, demonstrando transparencia enquanto homem público e também exemplo de cidadania.

  É interessante notar que Eldon Perry faz o mesmo em A Face Oculta da Lei, ao entregar seus colegas corruptos, incluindo seu chefe imediato, Jack Van Meter, além de entregar a si próprio assumindo publicamente seus atos nada heróicos diante da imprensa durante um evento cerimonial da polícia.


Mathias





  Nascimento enfrentou sozinho os inimigos de "colarinho branco", tendo sofrido um violento atentado no qual seu filho adolescente foi baleado e internado em estado de coma, além de perder seu amigo Mathias, jovem policial que ele treinou anos antes e agora fora morto numa cruel emboscada provocada por policiais corruptos.

Perry e seu parceiro Bob Keough



  Semelhanças entre ambos os filmes são inevitáveis e até surpreendentes, considerando que A Face Oculta da Lei foi feito sete anos antes de Tropa 2 e os personagens são movidos por circunstâncias um tanto parecidas, pois Perry teve a rejeição da esposa e do filho além de ter perdido um parceiro novato em uma operação desastrosa, o que lhe trouxe profundo sentimento de culpa.  


  Mais surpreendente ainda é notar que o personagem que age de forma conivente com a corrupção, embora não obtenha lucros, é justamente o policial norte-americano Eldon Perry, pois isso seria mais comum de se esperar do personagem brasileiro, já que a corrupção infelizmente é algo mais comum na policia brasileira do que na polícia estadunidense.
  Os três filmes encontram-se muito além da "linha de fogo" do cinema de ação convencional, pois os enredos desdobram-se de modo a oferecer um interessante estudo de personagens que cruzam a linha tênue que separa a justiça e a criminalidade. Realidades um pouco diferentes, mas igualmente retratadas de forma crua e desvelada pelo cinema policial em obras equivalentes e obrigatórias para todos os cinéfilos.

Trailers




Título original: (Tropa de Elite)


Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção: José Padilha
Atores: Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz.
Duração: 118 min
Gênero: Ação




Título original: (Tropa de Elite 2)


Lançamento: 2010 (Brasil)
Direção: Jose Padilha

Atores: Wagner Moura, Andre Ramiro, Maria Ribeiro, Milhem Cortaz.
Duração: 116 min
Gênero: Drama



Título original: (Dark Blue)

Lançamento: 2002 (Alemanha, EUA)

Direção: Ron Shelton
Atores: Kurt Russell, Scott Speedman, Michael Michele, Brendan Gleeson.

Duração: 102 min

Gênero: Policial







sábado, 1 de outubro de 2011

bárbaro nos cinemas

Conan, O Bárbaro

Retorno triunfal do guerreiro cimério fica só na promessa


    Entre os personagens clássicos constantemente revisitados pela "máquina de entretenimento" hollywoodiana, certamente Conan está em as maiores frustrações dos últimos tempos. O guerreiro bárbaro originário da literatura pulp de Robert Ervin Howard e posteriormente adaptado para as histórias em quadrinhos, teve momentos gloriosos na década de oitenta em dois filmes estrelados por Arnold Schwarzzeneger. Mas agora apesar de bem representado pelo ator iniciante Jason Momoa, o bárbaro estrela uma das piores adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema.

Jason Momoa

Diretor Marcus Nispel









Ilustração de Joe Jusko
Ilustração de Frank Frazetta
   












  O diretor Marcus Nispel parece não ter levado a sério o projeto assim como os roteiristas Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer, pois o roteiro do filme simplesmente mutila grande parte da saga de Conan que o público conhece bem do filme de 1982 roteirizado por Oliver Stone. O filme oitentista mostra a infancia de Conan e o retrata corretamente como uma criança indefesa diante do massacre de sua família e da aldeia em que vive, enquanto que o filme atual mostra Conan como um selvagem que ainda criança demosntra habilidade para lutar com vários adversários adultos e matá-los.
  Cenas de lutas muito mal executadas pontuam o longa que apesar de ter muita ação, simplesmente não convence. A feitiçaria, parte fundamental do universo do personagem também é mal retratada aqui, pois roteiristas desperdiçaram totalmente a chance de recriar criaturas muito mais interessantes do que meros guerreiros de areia ou tentáculos que emergem das águas.
  Atuações exageradas em nada ajudam, como se pode notar nos vilões Khalar Zim, interpretado por Stephen Lang e Marique, a filha de Zim feita pela atriz Rose McGowan. A mocinha indefesa, uma sacerdotisa chamada Tamara que será sacrificada pelos feiticeiros àcima citados, também não faz diferença alguma na interpretação de Rachel Nichols. Porém Jason Momoa faz com muita segurança um jovem Conan, com notável habilidade e um pouco de sarcasmo - mas é o ator certo no filme errado. Enfim, elenco desperdiçado.


Khalar Zim e Marique

Tamara

   








  Desperdiçada também é campanha de divulgação ao trazer cartazes muito bonitos e fotos que imitam a arte das ilustrações de Frank Frazetta e outros artistas dos quadrinhos, mas em nada condizem com contéudo da produção. Em meio a tudo isso resta saber quando Hollywood fará novamente uma adaptação de Conan que realmente coloque-se à altura de suas histórias em quadrinhos, o que na verdade não é nada difícil nos dias atuais , desde que a equipe que conduza o projeto tenha mais respeito pelo material original.

Trailer



Conan - The Barbarian

EUA , 2011 - 112 min.
Ação / Fantasia
Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer, Sean Hood
Elenco: Jason Momoa, Ron Perlman, Rose McGowan, Stephen Lang, Rachel Nichols, Bob Sapp, Leo Howard, Steven O'Donnell, Nonso Anozie, Raad Rawi, Laila Rouass, Saïd Taghmaoui, Milton Welsh, Borislav Iliev

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